João Batista Libanio nasceu em Belo Horizonte a 19 de fevereiro de 1932, no seio de família profundamente católica. Atraído ainda bem jovem pela vocação sacerdotal, transferiu-se para o Rio de Janeiro para ingressar no Aloisianum, que acolhia candidatos à Companhia de Jesus, enquanto terminavam os estudos fundamentais do curso ginasial no Colégio Santo Inácio. Em 1948 entrou no Noviciado jesuíta em Nova Friburgo, onde continuou sua formação espiritual e intelectual com estudos humanísticos (1950-1952), completando os cursos de Filosofia (1953-1955) na Faculdade Eclesiástica da mesma cidade e, simultaneamente, de Letras Neolatinas, modalidade intensiva no período de férias, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Após três anos de serviço pastoral junto aos alunos do Colégio Loyola de Belo Horizonte, encetou em fins de 1958 seus estudos de Teologia na Europa, com um ano na Faculdade Teológica de Comillas na Espanha, e três anos na Hochschule Sankt Georgen de Frankfurt, Alemanha, onde completou o bacharelado e o mestrado e foi ordenado padre em 1961. Dedicou-se em seguida, conforme o costume jesuíta, a cerca de dez meses de aprofundamento espiritual em Paray-le-Monial na França, donde seguiu para Roma, onde obteve o doutorado em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana (1966).
O cargo de Diretor de Estudos do Colégio Pio Brasileiro em Roma, assumido ainda durante o seu doutoramento, na época do Concílio Vaticano II, facilitou seu contato com os bispos e assessores de todo o Brasil, envolvendo-o de perto com a problemática e a riqueza de ideias e novas perspectivas que emergiam então, o que já vinha, aliás, acontecendo desde o tempo de seus estudos em Frankfurt.
Retornando ao Brasil em 1968, fixou-se primeiro em Belo Horizonte até 1974, onde exerceu um fecundo trabalho de evangelização entre os jovens, como Assistente do CJC, ao mesmo tempo que lecionava teologia, durante o primeiro semestre nas Faculdades de Teologia Cristo Rei de São Leopoldo, Rio Grande do Sul (1969-1971 e 1974) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1972-1973), e durante o segundo semestre no Instituto de Filosofia e Teologia (IFT) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Retomou o seu magistério na PUC-Rio de 1975 a 1981, residindo no Rio de Janeiro como formador responsável pelos estudantes jesuítas de teologia.
Com a fundação do Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus (CES) em 1982, voltou a Belo Horizonte, como professor da Faculdade de Teologia, onde residiu os trinta e dois últimos anos de sua vida, lecionando também a mesma matéria no Seminário Arquidiocesano (1987-1989). Durante todo este tempo exerceu seu ministério pastoral na Paróquia de N. Sra. de Lourdes em Vespasiano, na periferia de Belo Horizonte, para onde fazia questão de se dirigir todos os fins de semana para as celebrações da eucaristia, em particular a missa das crianças, e outras atividades, e, mais uma vez, no meio da semana para atendimentos pessoais, sempre que sua agenda sobrecarregada o permitisse. De fato, se ausentava com frequência para cursos e palestras na cidade e em várias partes do Brasil, cada vez mais solicitado não só por instâncias intra-eclesiais, mas também por instituições da sociedade. Seus dotes de comunicação, sua empatia com o auditório, além da clareza e vigor de suas ideias, fizeram dele um orador extremamente apreciado.
Em meio a esta vibrante atividade, P. Libânio não descurava os seus compromissos acadêmicos, dedicando-se com entusiasmo às suas aulas e ao acompanhamento dos alunos sobretudo com a orientação, cobiçada, de teses de doutorado e dissertações de mestrado. Sua vida intelectual estritamente ordenada, metódica e produtiva, era alimentada não só pela leitura sistemática, mas também por sua capacidade de compreender a alma humana e detectar e analisar as tendências emergentes na cultura e sociedade. É o que revelam os seus escritos, cerca de 125 livros, dos quais 36 de autoria própria e os demais em colaboração com outros autores, inclusive alguns editados em línguas estrangeiras. Publicou também mais de 40 artigos em periódicos especializados e inúmeros outros em jornais e revistas, tendo sido colaborador regular do semanário Jornal de Opinião da Arquidiocese de Belo Horizonte e do diário O Tempo da imprensa local. Sua reflexão teológica inspirou-se nos princípios evangélicos da Teologia da Libertação, particularmente, o amor preferencial pelos pobres, tendo se tornado pela profundidade e irradiação de seu pensamento um dos representantes desta corrente mais conhecidos nacional e internacionalmente. Mas sua produção abrange vários outros temas, em particular, em torno do significado da atitude de fé e no campo da espiritualidade e da formação da juventude.
Dentre suas últimas publicações destacam-se:
# Teologia da Revelação a partir da Modernidade, 6ª ed. São Paulo: Loyola, 2012
# Para onde vai a juventude?, 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2012
# A religião no início do milênio, 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2012
# Crer num mundo de muitas crenças e pouca libertação, 2ª ed. São Paulo: Paulinas / Valencia: Siquem, 2012
# A escola da liberdade. Subsídios para meditar, 1ª ed. São Paulo: Loyola, 2010
# Cenários da Igreja – Num mundo plural e fragmentado, 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2009
# Qual o futuro do Cristianismo,2ª ed. São Paulo: Paulus, 2008
# Introdução à vida intelectual, 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2006
# Eu creio – Nós cremos – Tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2005
# A arte de formar-se, 4ª ed. São Paulo: Loyola, 2004
# Ideologia e cidadania, 14ª ed. São Paulo: Moderna, 2004.
Em 2003 foi-lhe outorgado em sessão solene o título de Professor Emérito da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), versão civil do Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, onde lecionou tantos anos. Foi assessor da Conferência de Religiosos do Brasil (CRB) e do Instituto Nacional de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), além de assessorar encontros das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), ocupar a Presidência da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), de ter sido membro do Conselho Presbiteral da Arquidiocese e do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Belo Horizonte e. No âmbito da Companhia de Jesus, entre outros encargos especiais, foi membro da Comissão Teológica da Conferência dos Provinciais Jesuítas da América Latina (CEPAL) e do Grupo de Trabalho convocado pelo Superior Geral em Roma para assessorá-lo no projeto de Reforma do Sistema de Estudos dos Jesuítas em Formação.
A morte alcançou-o em plena atividade, vítima de um infarto, na manhã de 30 de janeiro de 2014, aos 81 anos, quando orientava um retiro espiritual para professores e coordenadores do Colégio Sion, em Curitiba. O velório em Belo Horizonte no dia 31 desde às 11h no Auditório da FAJE, contou às 20h com um momento de Oração e Testemunhos em sua Memória, com grande presença de pessoas amigas. No sábado, 1º de fevereiro, o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo presidiu a missa exequial. Às 14h houve outra missa na Paróquia de N. Sra. De Lourdes em Vespasiano, de onde saiu o corpo para o sepultamento no Cemitério Bosque da Esperança, em Belo Horizonte.
Em entrevista ao Jornal de Opinião, por ocasião de seus 70 anos, P. Libânio resumiu nestas palavras sua visão da vida: “A clareza e a serenidade não se medem pelo número de anos, mas pelo trabalho interior. A existência foi generosa comigo e permitiu-me que pudesse estar sempre à volta com análises e reflexões sobre a realidade social e eclesial”. Homem de fé e intensa vida espiritual, como servo bom e fiel, brilhante, mas despretensioso, soube multiplicar os preciosos talentos que recebeu de Deus e distribuir profusamente os seus frutos entre os irmãos e irmãs.
Pe. João Augusto Anchieta Amazonas Mac Dowell SJ